Em uma geração de games em que a maior parte dos títulos AAA envolve catástrofes, mortes e explosões, é revigorante perceber que a leveza de algo como Rayman ainda consegue seu espaço. O mais impressionante? Um espaço muito mais generoso do que aquele normalmente reservado para belos títulos de ação em plataforma com potencial econômico duvidoso — quer dizer, as redes de distribuição exclusivamente digital dos consoles.
Nada mais natural, na verdade. Afinal, jogar a experiência tão rica quanto extensa de Rayman Origins entre propostas “arcade” seria uma completa injustiça. Isso porque o renascimento do mascote da Ubisoft não representa apenas uma homenagem saudosista a tempos já idos... Trata-se de um resgate que consegue, simultaneamente, encerrar o que de melhor havia no período áureo dos jogos em plataforma, sem se descuidar das tendência e exigências que marcam a sétima geração de consoles.
Mas convenhamos, a primeira impressão que se tem ao colocar Rayman Origins no console tem pouco a ver com análises dos movimentos da indústria de games. O que vem à mente é simplesmente um “caramba, isso é realmente bonito!”.
Origins poderia ser classificado como o mais completo e belo caos. A ação descomplicada do game vai levá-lo para o paraíso de cores primárias e ambientes orgânicos concebido pelo brilhante Michel Ancel. Tudo se move. Há vida em qualquer canto, sempre vibrando em um ritmo que parece unificar personagens e cenário para uma experiência sensorial única.
Em relação à versão que agora dá as caras no PlayStation Vita... Trata-se, afora alguns pequenos detalhes, do mesmo ótimo jogo. De fato, a Ubisoft foi suficientemente sábia para não ceder à tentação de abusar das funcionalidades do novo portátil da Sony. Dessa forma, além de uma sutil utilização da tela sensível ao toque do Vita, o que há é a mesma experiência — com a exceção do modo cooperativo, embora exista uma compensação. Vamos aos detalhes.
Aprovado
De volta à época dourada da ação em plataforma
Sim, Rayman Origins traz belos gráficos, do tipo que jamais passaria vergonha se confrontado com outro título AAA. As opções também são vastas, e ninguém questionaria que o conjunto da obra é, certamente, um título da sétima geração. Entretanto, há algo aqui que deliberadamente viaja no tempo para resgatar o que de melhor havia nos jogos de ação de 10 ou mais anos atrás.
Rayman é simples, mas jamais entediante. Trata-se de mecânicas “direto ao ponto” que complementam perfeitamente a proposta geral. Ademais, há em Origins — mesmo que apenas parcialmente — aquela dificuldade característica, típica de uma época em que os desenvolvedores não precisavam pajear os jogadores entregando desafios semelhantes a passeios no parque.
Em outras palavras, Rayman Origins vai matá-lo muitas vezes. Vai exigir que você desenvolva as habilidades antes de passar determinada fase — sobretudo em mundo mais avançados. E, bem, caso você consiga resgatar um pouco daquela paciência e determinação que forjavam os jogadores de outrora, é fácil prever que a experiência trará também aquele gostinho (hoje bastante raro) de dever cumprido.
Beleza... Mesmo nos mínimos detalhes
Rayman Origins teve simplesmente uma das melhores direções artísticas da atual geração de games. Ao criar o caos profuso de cores e movimentos do game, Michel Ancel não apenas se ocupou de lançar mais e mais elementos, mais e mais matizes. Cada um dos mundo aqui — seja um deserto ou uma floresta densa — parecem respeitar um cerne, um ponto central de onde toda a experiência visual de Origins surgiu.
Não há pontas soltas, assim como não há elementos desnecessários ou descartáveis. Trata-se de um universo construído como um grande organismo, com temáticas bem elaboradas (e também bem humoradas) que se complementam e apenas enriquecem a paisagem geral.
Um caleidoscópio interativo
Praticamente qualquer elementos em Origins é interativo. Há movimento por toda parte, e nenhuma parte dele parece existir sem algum propósito. Você saltará sobre gêiseres espumantes, e também terá que pressionar botões de flautas gigantescas para liberar uma estrutura de cenário, para, logo em seguida, sair deslizando por corredeiras em velocidade nauseante. Uma dica? Pare em alguns momentos, apenas para apreciar a paisagem. Realmente vale a pena.
Modo Ghost
É verdade que um modo “corrida contra o tempo” pode não ser tão divertido quando uma autêntica diversão cooperativa. Mas isso não tira o brilho do modo Ghost de Rayman Origins. O funcionamento é exatamente como você imagina: corra para estabelecer uma boa meta em determinado cenário... E em seguida faça de tudo para superar a si mesmo. Além disso, a versão para Vita ainda incluí a possibilidade de compartilhar os seus recordes com alguns bons amigos.
É só seguir o ritmo
Não há como negar: o ambiente orgânico de Rayman Origins é fortemente influenciado pelas belíssimas músicas que embalam cada um dos cenários. São instrumentos de sobro, percussões e cordas perfeitamente engendradas para compor uma atmosfera que não se esquece tão rápido.
Deslize para ver o mapa
No PS Vita é possível navegar pelos belos e caóticos mapas de Rayman Origins utilizando as pontas dos seus dedos — embora, é claro, o direcional também seja uma possibilidade. Ok, talvez não se trate exatamente de um grande diferencial... Mas mesmo assim é bastante prático.
A beleza dos cenários vista mais de perto
Talvez os detalhes mais singelos da “Clareira dos Sonhos” possam se perder em uma tela relativamente maior. Sem problemas: ao movimentar os dedos em forma de pinça sobre a tela sensível ao toque do Vita, você terá acesso a um prático zoom. Há um pequeno revés, entretanto: jogar sem ter uma visão da totalidade da tela do portátil pode ser um tanto desajeitado (ou mesmo perigoso).
Reprovado
Sem multiplayer online
Em um jogo que prima pela ação coletiva, é realmente difícil entender por que não há um modo multijogador online. Não que dividir a sua sala de estar com alguns bons amigos não represente um apelo extra (sobretudo considerando-se o humor característico do game), mas não seria nada mal poder compartilhar a experiência com outros jogadores através da rede.
Junte itens colecionáveis... Ou se arrependa depois
A segunda metade de Origins passa a exigir demais do jogador, e não necessariamente de uma forma divertida. Prepare-se para retornar várias vezes aos primeiros mundos para buscar objetos colecionáveis já que, de outra forma, não haverá como desbloquear as últimas fases.
Sem modo cooperativo no Vita
Inegavelmente, uma das maiores diversões das versões originais de Rayman Origins encontrava-se na possibilidade de compartilhar as insanidades lisérgicas da “Clareira dos Sonhos” com alguns bons amigos — embora, desde o início, sem a possibilidade de alçar voos online. Bem, isso não é mais possível na versão do PlayStation Vita, que traz apenas o modo Ghost como um pequeno consolo.
Vale a pena?
Rayman Origins representa uma combinação única de saudosismos, humor, diversão e beleza. Há um ambiente orgânico, em que tudo apresenta movimento; em que tudo parece ligado a um centro comum. Há também uma das mais belas direções de arte que já se viu nos video games, com atenção mesmo aos mínimos detalhes, transformando o resultado em uma bela obra de arte interativa.
Quem optar pela versão para o Vita, entretanto, ganhará mobilidade para a mesma experiência hilariante dos consoles maiores... Embora o preço seja considerável: a perda do modo cooperativo. Há uma compensação, é claro. Trata-se da possibilidade exclusiva de correr contra o seu próprio recorde no modo Ghost do game e também de compartilhar os seus recordes com os seus amigos.
Mas Rayman Origins é também o resgate de um período bastante único dos vídeo games. Um tempo em que jogos de plataforma não eram relegados a fatias menores do mercado — quando, de fato, surgiram alguns dos maiores heróis de ação que se conhece hoje. Origins resgata aquelefeeling que era composto por uma dose de ação descomprometida para duas de dificuldade nauseante. Enfim, prepare-se para uma bela, divertida e engraçada viagem no tempo.
Fontes Baixaki jogos: www.bj.com.br
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